Em Março de 2014 eu era coordenador de uma pequena equipa de redes em um provedor de internet angolano. Depois de 5 anos de casa e ter dado o meu contributo para dar à luz e amamentar e empresa, aproximava-se mais uma oportunidade de progressão desejada por muitos na carreira profissional. Fui convidado a ocupar o cargo de chefe de depto. de IT. Pooorreiro!!
Mas, mais ou menos na mesma altura, fui contactado para um emprego numa “multinacional” para trabalhar com clientes angolanos.
A entrevista e a oferta foram interessantes:
- sem seguro de saúde
- Sem escritório
- Sem carro
- Sem telefone
- Sem saldo
- Sem internet
- Sem benefícios
- E pra açucarar… contrato por 1 ano
A vida às vezes atira-nos essas decisões difíceis. Abandonar um cargo de chefia num contrato por tempo indeterminado por um trabalho por contrato? Mas mesmo assim, contra o conselho de muita gente fui em frente, abandonei a empresa e segui para a Cisco Systems.
Dependendo do país em que está deve estar a pensar:
“Trabalhar por contrato? Qual é o problema? Aqui onde vivo é o “normal”.
Mas em Angola nunca foi assim. É um país onde sempre se promoveu a estabilidade no emprego, a procurar um emprego no estado e lá fazer “carreira”.
Mas o temor ao trabalho por contrato tem uma razão de ser. Assumi o risco e o dia da verdade chegou.
Sinceramente, consciencializei-me tanto que um dia perderia o emprego, que quando a notícia chegou não me assustei. Estava pronto, aceitei e segui em frente.
Foram 29 meses interessantes. Conheci gente nova, maneiras diferentes e inovadoras de trabalhar dentro e fora de Angola, reforcei a necessidade de humildade, respeito e aprendi que muitas vezes saber dos bits e RFCs não é o suficiente.
Precisamos de ser humanos antes de ser técnicos.
Mas e agora? Desempregado??
P’ra começar um monte de nada! 2 semanas quieto. A primeira de férias com a família e a segunda a coçar-me e a arejar aquilo que me fisicamente me torna homem.
Depois disso, tinha alguns planos antes de começar na busca por um novo emprego:
- Ler uns 50 livros
- Dedicar algum tempo aos meus hobbies
- Dormir 8h por dia (há muito que não o fazia)
- Certificação CCNA DC
- Certificação MEF-CECP
- Uns tantos projectos pessoais
- Uns tantos projectos profissionais (tentar dar uma de empreendedor)
No entanto, no final de tudo isto, nada podia ser mais verdadeiro do que o trecho abaixo:
O trecho é do livro “The joy of not working” de Emie J. Zelinksi, o único livro que li nesse período e o que diz é verdade. No “desemprego” senti uma liberdade e relaxe tal que a mente começou a borbulhar, ideia magníficas e projectos foram surgindo, fiz uns trabalhos de freelancer aqui e ali que me levaram a conhecer novas pessoas e tecnologias (os artigos por vir) e consegui colaborar com as mentes brilhantes que tornaram realidade a app Appy Saúde.
Quer seguir o mesmo caminho?
Antes de o fazer tenha calma! Especialmente se tiver uma família para sustentar. Optar pelo “desemprego” não é uma brincadeira:
- Trabalhava há 7 anos e tinha um buffer que me permitia sustento durante alguns meses
- Eu não era o único a sustentar a casa e a opção de não trabalhar por vários meses foi bem pensada entre nós (basicamente fiquei “pacheco” por uns tempos)
Continuo kunanga?
Nem por isso. Depois de quase 10 meses de “desemprego”, umas entrevistas aqui, ali e um click curioso:
- Um novo emprego
- Novos desafios
- Mais dúvidas
- Um novo lugar…
2018 será um ano interessante…
Nota: Como deve ter reparado, este post chegou um tanto atrasado como o típico angolano. Ele começou a ser escrito em Dezembro de 2017 e é um de muitos pendentes que pretendo publicar nos próximos dias. Dado o tempo que passou, alguns deles poderão não fazer muito sentido… mas vou mandar mesmo assim saf***.
Nota 2: Para os “não angolanos” não me perguntem o que significa kunanga e pacheco.
Curti. Sucessos. Bom saber de ti
Mestre xará. Obrigado!
Kkkk pqp…. granda tarlaaaa. Uffff saudades……..
É das más companhias!!
Kkkkkkkk, nem sei quem são!! Sucessos puto
Meu amigo. Post diferente mostrando o outro lado da moeda. Gostei e continuo supreso pela capacidade de criatividade. Bom ver e obrigado por partilhares que por mais dificil que seja esta fase, planificar antes e pensar direito e sempre a opcao certa.
Os medos nao devem ser o entrave dos nossos sonhos.
Valeu Angelo. Continua a visitar o site vou tentar mante-lo mais activo e interessante
Continuo a seguir os teus post me têm dado muita ajuda profissional e espero um dia poder partilhar algo original…
Gostei da dica para ninguém te perguntar sobre o Kunanga e Pacheco. ✌
Valeu Pedro. Espero sempre poder ajudar na medida do possível. Não esperes por um dia, avança já!
Gostei do post, parabéns Mário! Ouvi e oiço falar bastante de ti na empresa na qual deixaste o cargo de coordenador (Net…).
Sucessos.
Glória, não liga muito. Ali só ficaram loucos! hahahaha
Grande post Mário e bem vindo de volta
Obrigado. Não podemos deixar o barco afundar
Brutal!!!
Já me tinhas passado esse teu site? Gostei já bué! Encontrei porque estava a procura do site dos provisórios, para baixar os sons da pedra. Encontrei isso.
Acima de tudo, do teu texto, fica o seguinte: ouvir a nossa voz interior é importante.